Escola de Frankfurt e a Indústria Cultural

A Indústria Cultural é um conceito criado pelos filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, membros da Escola de Frankfurt, no livro Dialética do Esclarecimento, publicado em 1944. O termo refere-se à padronização e mercantilização da cultura no sistema capitalista. Os produtos culturais, como filmes, músicas e programas de TV, são produzidos em massa com o objetivo principal de gerar lucro, em vez de promover reflexão crítica ou inovação artística. Segundo Adorno e Horkheimer, a Indústria Cultural transforma a cultura em mercadoria.

O termo foi cunhado na Escola de Frankfurt, fundada em 1923 na Alemanha. Com o nazismo, o instituto fechou e nomes como Adorno, Horkheimer e Marcuse exilaram-se nos EUA. Na época, o rádio ganhou força para informação e propaganda, e o cinema firmou-se como entretenimento e influência ideológica.

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Entre os pontos de debates da Escola de Frankfurt está a “perda da aura”. Trata-se de um conceito central na obra de Walter Benjamin no ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Refere-se à diminuição da autenticidade e unicidade de uma obra de arte quando reproduzida em massa. A aura, para Benjamin, é a qualidade que envolve uma obra original, o que lhe confere um senso de presença única, história e valor ritualístico. A reprodução técnica, como a fotografia e o cinema, ao tornar a obra acessível a um público vasto, dissipa essa aura, e torna a arte em um objeto de consumo em massa e alterando a forma como a percebemos e experienciamos.

Um exemplo claro da perda da aura é a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. No Museu do Louvre, a pintura original atrai milhões de visitantes que desejam vê-la de perto e notar sua textura, cores e detalhes autênticos. Mas sua imagem já foi reproduzida incontáveis vezes em pôsteres, camisetas, memes e até canecas. A Mona Lisa virou um ícone da cultura pop. Essa massificação tira a singularidade da obra e a transforma em um objeto comum, acessível a todos. A experiência, porém, não é a mesma da contemplação do original. Esse fenômeno exemplifica a tese de Walter Benjamin. Ele argumenta que a reprodutibilidade técnica dissolve a aura da obra de arte, altera sua relação com o público e reduz sua função ritualística.

A Escola de Frankfurt também ponderou sobre a democratização da arte e da cultura. A reprodução técnica, apesar da perda da aura, leva obras a mais pessoas. Filmes e músicas chegam a lugares distantes. Livros são impressos em grande escala. O conhecimento se espalha. A arte deixa de ser privilégio de poucos. Há, porém, um alerta: a democratização não garante acesso à arte de qualidade. A Indústria Cultural pode padronizar gostos e limitar a diversidade. A reflexão crítica se torna essencial para apreciar a arte e a cultura na era da reprodução técnica.

Monalisa no Louvre
Mona Lisa no Louvre

E o cinema para Frankfurt? Para a Escola de Frankfurt, o cinema era uma das principais expressões da Indústria Cultural, funcionando como um instrumento poderoso de padronização e alienação das massas. Theodor Adorno e Max Horkheimer, em Dialética do Esclarecimento (1944), argumentavam que a produção cinematográfica seguia uma lógica mercadológica. Narrativas previsíveis, personagens estereotipados e técnicas repetitivas reforçavam ideologias dominantes e impediam o pensamento crítico. O cinema, ao ser produzido em larga escala e distribuído globalmente, promovia a ilusão de diversidade. Na realidade, oferecia conteúdos padronizados que reafirmavam o status quo. No entanto, Walter Benjamin teve uma visão um pouco diferente. Em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936), ele reconheceu que a reprodução cinematográfica dissolvia a “aura” da arte tradicional. Mas também enxergou potencial emancipador no cinema, pois poderia aproximar a arte das massas e criar novas formas de percepção. Dessa forma, enquanto Adorno e Horkheimer viam no cinema um meio de manipulação e dominação, Benjamin acreditava que, sob certas condições, ele poderia ser uma ferramenta revolucionária para transformar a sociedade e ampliar o acesso à cultura. Assim, o cinema, para Frankfurt, era um campo de disputa entre a alienação e a possibilidade de ruptura crítica.