Número Zero, de Umberto Eco [resenha]

capa do livro Número Zero - resenha

O Número Zero foi o último livro publicado por Umberto Eco, autor italiano que escreveu o clássico O Nome da Rosa e outras obras como O Cemitério de Praga.

Na obra, Eco conta a história de um grupo de jornalistas contratado para produzir um jornal. O proprietário desse novo veículo de comunicação, no entanto, quer apenas fazer parte do círculo exclusivo de donos de meios de comunicação. Por isso, o periódico jamais vai ser lançado de fato. Porém, na redação, a equipe pensa no formato da publicação, das reportagens, na rotina de produção e elabora matérias que nunca vão chegar aos leitores.

O Número Zero permite ao leitor ter uma visão de como age o jornalismo quando as notícias são contaminadas por todo tipo de influência – seja do patrão que não pode ser contrariado ou do jornalista que elabora diversas formas de estratagemas para contar fatos.

Outra discussão importante do livro é  como a verdade pode ser construída pela imprensa e, depois, recontada nas páginas dos livros de história.

Número Zero é narrado pelo personagem principal da obra, Colonna, um jornalista que se sente um derrotado por questões mal resolvidas da carreira, por nunca ter conseguido obter um diploma universitário e que sua atividade profissional, até então, é fazer traduções em um jornal alemão.

Apenas Colonna e Simei, editor-chefe do jornal, sabem do segredo do patrão. Todos os demais integrantes da equipe imaginam que trabalham na criação de um noticiário livre e independente. Com as discussões acaloradas, o leitor pode fazer uma pequena incursão nos debates que envolvem a produção de notícias de um jornal e entender as regras, muitas vezes, não escritas que organizam a imprensa e que são ditadas da cabeça de quem manda no jornal.

– Não é necessário inventar notícias – observei  -, é só requentar.
– Como?
– As pessoas têm memória curta. Pensando por paradoxos: todos deviam saber que Júlio César foi assassinado nos idos de março, mas as ideias são confusas. Pega-se um livro em inglês recente que faça uma revisão da história de César, depois basta um título de efeito, ‘sensacional descoberta dos historiadores de Cambridge. César foi mesmo assassinado nos idos de março’, reconta-se tudo e tem-se o artigo delicioso… (p. 177-178)

O Número Zero também acompanha o romance entre Colonna e Maia, a única jornalista da redação. Mas uma parte no mínimo curiosa é do personagem Braggadoccio, um repórter investigativo que levanta as mais extravagantes teorias da conspiração sobre política italiana, a igreja, a maçonaria e traumas europeus.

O livro de Umberto Eco é uma boa leitura, em especial, para jornalistas e profissionais da comunicação. Ele escancara a angústia de todo repórter de querer entregar uma reportagem de qualidade, mas vê seu trabalho intelectual preso a um sistema que é industrial. A obra tem 207 páginas. É uma leitura leve e cheia de sacadas inteligentes do dia a dia da redação.


Número Zero

Umberto Eco

Editora Record, 2015, p.207

Tradução: Ivone Benedetti



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