A Sociedade da Neve: o drama humano no filme da Netflix

A Sociedade da Neve foi uma das melhores experiências cinematográficas dos últimos tempos. De início, imaginei que a história poderia se transformar em um filme B com ar sombrio e de mau gosto. Entretanto, o trabalho de direção deu o tom adequado para narrar a fatalidade dos Andes com o equilíbrio necessário.

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O filme narra a tragédia que ocorreu em 1972 quando o avião FH-227D caiu no Chile. Foram 29 pessoas mortas. Outras 11 sobreviveram em um dos locais mais inóspitos do planeta por dois meses até o resgate. Os passageiros eram integrantes de um time de rugby do Uruguai que participariam de uma competição em Santiago. Especialistas apontaram que o motivo da queda pode ter sido um erro de rota dos pilotos e as condições climáticas extremas da região.

Os sobreviventes tiveram que enfrentar a fome e chegaram a ficar soterrados por uma avalanche. Um dos momentos mais graves foi a decisão do grupo de se alimentar da carne dos corpos dos passageiros mortos. No filme, essa decisão não ocorre de forma abrupta. Eles debatem as implicações éticas e religiosas de violar os cadáveres dos companheiros.

O filme da Netflix é baseado em um livro homônimo escrito pelo jornalista Pablo Vierci. No Brasil, a publicação da obra é da Companhia das Letras. São 416 páginas com uma narrativa profunda de todas as adversidades que os sobreviventes tiveram que lidar.

Outro filme já havia contado essa história no cinema em 1992. Foi a obra Alive ou Vivos, na versão em português. Ela é baseada em outro livro que também narra os fatos. Uma diferença fundamental entre as duas películas está na escolha do elenco. A Sociedade da Neve tem atores latino americanos. Já Alive preferiu usar atores brancos dos Estados Unidos. No filme de 1992, há dois protagonistas que dominam parte importante do tempo da obra. No novo trabalho da Netflix, o esforço é para mostrar como cada um lidou com aquela terrível condição que se encontravam.

A Sociedade da Neve é dirigido pelo espanhol Juan Antonio Bayona. Ele é o diretor de O Impossível, obra cinematográfica que mostra o drama de uma família que sobrevive ao tsunami de 2004 na Indonésia. Naquele filme, ele já experimenta mostrar a história desse tipo de tragédia sempre com os personagens no limite físico, emocional e psicológico. Não é uma epopéia de uma ou duas pessoas, mas uma crise que envolve diferentes sujeitos e que, por consequência, reagem de modos diversos.

A Sociedade da Neve é um instigante olhar sobre a frágil condição humana. Poderia falar aqui da qualidade da direção de fotografia e dos efeitos visuais, mas o momento de maior impacto é o diálogo entre os personagens Arturo Nogueira (interpretado por Fernando Contigiani García) e Numa Turcatti (Enzo Vongricic). Vale a pena assistir.

Avaliação de A Sociedade da Neve

A Sociedade da Neve tem nota 7,8 de 10 no IMDB. No Metacritic, o filme obteve avaliação média de 72 de 100. A New York Magazine deu nota 9 para o filme e afirmou: “O que eleva o filme acima do sangue traumático e pornográfico e o empurra para a transcendência, porém, é como seu roteiro filosófico e performances inabaláveis ​​​​conduzem a questão de saber se a sobrevivência é uma transgressão contra Deus”. O IndieWire, no entanto, não gostou da obra: “Esta representação musculosa e muitas vezes brutal é esculpida com autenticidade, mas é psicologicamente esquemática demais para causar muito impacto emocional”.

Em um tempo em que se os filmes são, na grande maioria, repletos de efeitos de computação gráfica, que querem chamar mais atenção aos olhos do que pela emoção que a história pode transmitir, A Sociedade da Neve entrega para o público uma obra singular capaz de fazer-nos pensar e sentir o que está na tela. Por isso, a minha avaliação é nota 5 de 5.

Imagem real do avião que caiu nos Andes

Elenco do filme A Sociedade da Neve, da Netflix?

Direção: Juan Antonio Bayona

Enzo Vogrincic- Numa Turcatti

Agustín Pardella – Fernando ‘Nando’ Parrado

Matías Recalt – Roberto Canessa

Esteban Bigliardi – Javier Methol

Diego Vegezzi – Marcelo Pérez del Castillo