Minas é conhecida pela beleza do patrimônio histórico. Esculturas e prédios de Ouro Preto, Diamantina, Sabará e outras cidades do período colonial dão fama ao Estado. Mas, do mesmo jeito que a culinária local não vive só do pão de queijo, a arte não possui apenas o barroco. Em cada região, há obras do art déco. O período, importante para o design e a arquitetura, surgiu por volta de 1925, na França. Nele, o que se predomina são as linhas retas ou circulares estilizadas, imagens florais e referências à figura feminina e culturas antigas.
De acordo com Telma de Barros Correia, autora de “Art déco e indústria”, o estilo recebeu influências do cubismo, futurismo e expressionismo. Segundo ela, o aspecto inovador da arquitetura déco é a simplificação do traço geométrico dos elementos decorativos. O seu uso marcou o cenário brasileiro entre 1930 e 1940. Projetos em déco foram realizados em casas, bibliotecas, teatros, prédios residenciais e fábricas.
Segundo Telma, são encontrados elementos de déco na Companhia Industrial São Roberto, em Gouveia, na vila operária da Fiação e Tecelagem João Lombardi, em São João Del Rey, e na Companhia Renascença Industrial, em Belo Horizonte. Sobre a capital do Estado, o professor Leonardo Barci Castriota, no texto “Raphaello Berti: tradição e racionalidade na arquitetura”, comenta sobre o trabalho do italiano que viveu na cidade entre 1929 e 1972 e produziu cerca de 500 projetos arquitetônicos. O Cine Metrópole, o cinema Santa Tereza e a Santa Casa de Misericórdia são alguns dos lugares que levam a assinatura dele.
O estilo no interior do Estado
O interior do Estado também possui marcas desse estilo. Passos, no sudoeste de Minas, possui uma dezena de prédios em art déco. A cidade surgiu em 1850, mas, como outras localidades da região, se desenvolveu a partir do início do século XX. O antigo prédio do Fórum, atualmente, Casa da Cultura, é um exemplo de déco local. São dois pavimentos com a fachada marcada por arranjos em torno de portas e janelas. Tudo levemente decorado com elementos florais. O que chama atenção é a simplicidade de cada contorno, ao mesmo tempo que ele apresenta uma certa imponência em seu tamanho.
No entanto, o abandono de alguns prédios públicos no Estado ameaça o patrimônio histórico. Muitas dessas obras estão fora dos grandes circuitos turísticos de Minas. Porém, a importância histórica do art déco para a arquitetura exigiria um maior cuidado por parte do poder público. É necessário entender esse estilo como parte do patrimônio mineiro. Aliado a isso, o conceito de patrimônio precisa superar a idéia primária de que tudo faz parte de um grande catálogo histórico. Patrimônio é, antes de qualquer coisa, uma herança que deve ser observada por um corte transdisciplinar que abrange conteúdos de estética, história e sociologia política.
Jean-Pierre Babelon e Andre Chastel, em La notion de patrimoine, indica a origem da palavra. Segundo os autores, parte do sentido atribuído a patrimônio vem da valorização do sagrado na religião. O cristianismo incorpora a idéia de sacralidade aos objetos que simbolizam mártires e a prática de milagres. Para Babelon e Chastel, a veneração funda o patrimônio.
Preservação do patrimônio
De acordo com a Unesco, selecionar e salvar da perda da degradação material fragmentos da história artística e arquitetônica significa preservar uma ponte de contato com o passado. Tombar, designar legalmente prédios, quadros e esculturas são formas de dar uma personalidade jurídica a esses bens.
Foto: extraída do site da Prefeitura de Belo Horizonte
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