Aboio, o canto dos vaqueiros de Minas e do Brasil

Capa do disco de Luiz Gonzaga

O aboio é um patrimônio do Brasil. O canto formado com elementos simples da oralidade é a representação da cultura do grupo de homens que sobrevivem do trabalho no campo: os vaqueiros. O som é entoado para tocar o gado. Ele se constitui em uma melodia lenta, assim como o passo dos animais. O significado de aboio vai além do que as palavras podem dizer. Ele faz parte da cultura popular sertaneja.

Minas Gerais, por sua tradição na pecuária, possui raízes profundas dessa forma de expressão em suas regiões, que serve para mostrar a diversidade do Estado. Cada local a sua maneira e com as características fonéticas próprias dá ao canto uma expressão única.

O maior símbolo do aboio, no entanto, vem do nordeste do país. Ninguém representa tão bem a cultura do vaqueiro como Luiz Gonzaga, o rei do baião. Foi no cotidiano desses homens que ele teve a base para suas composições que falam da terra, da esperança e dissabores de quem vive na caantiga. Em sua biografia, há inclusive um relato de que em um momento de agonia no hospital, que estava internado, pouco tempo antes de morrer, ele teria soltado um canto semelhante a um aboio que ecoou por todo o prédio.

Aboio, vaqueiros, vaquejada e estância

A valorização da arte do aboio permite um reencantamento do mundo. A pós-modernidade, a era da informação imediata, rápida e pouco contextualizada, abriu uma distância entre o homem e o mundo natural. Rever a cultura popular dos vaqueiros é como apertar o botão de pausar e dar a cada um a chance de contato com o ambiente que não existe aos olhos do cidadão urbanizado.

Por estar em um espaço territorial diferente, o sujeito da cidade se considera deslocado do modo de vida e de ser do campo – o que é completamente justificável. Porém, a produção cultural, independente da origem, sempre é legítima. Das grandes obras de arte que estão em museus e galerias até o gueto; dos monumentos arquitetônicos ao jeito de andar, falar e se vestir do povo do sertão de Guimarães Rosa, tudo tem um valor especial.

A cultura não pode ser entendida apenas pela arte ocidental, de origem européia e burguesa. Todas as formas de produção de sentidos são importantes. No entanto, a realidade se mostra diferente. Ao observar a produção acadêmica, por exemplo, é possível encontrar grupos de professores e intelectuaisque parecem fechar os olhos para a cultura popular, como se ela fosse inferior. A própria palavra povo já lhes causa certo horror, por considerar a massa como atomizada e apática. Esquecem, porém, esses estudiosos, que, a maior virtude que uma obra artística pode ter é a simplicidade, o maior atributo do povo.

Foto: reprodução da capa do disco de Luiz Gonzaga

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