Thelonius Ellison, conhecido pelos amigos como Monk, é professor e escritor de livros de ficção com um relativo sucesso. Ele se vê em um sério problema familiar quando perde o emprego na universidade e precisa cuidar da mãe que sofre de alzheimer. Sua obra mais recente é recusada pelas editoras por não ter apelo comercial. Sua frustração cresce ao perceber que os livros de autores negros que mais se destacam com o público são aqueles carregados de estereótipos.
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Indignado com a situação, mas precisando de dinheiro para os tratamentos médicos da mãe, Monk escreve um livro que ele define como “sem alma”. A história é repleta de conflitos entre o protagonista negro e seus familiares, violência, drogas e assassinato. O autor usa um pseudônimo para distribuir os livros para as editoras. O interesse pela obra aumenta quando seu agente literário inventa que Monk, ou melhor Stagg R. Leigh, é um fugitivo da polícia.
Ficção Americana é uma comédia ácida para criticar uma falsa militância e engajamento em torno das temáticas sociais e raciais. Como todo negócio, a venda de livros é um mercado que está suscetível às ondas de interesses. Obras de baixa qualidade, mas que surfam no hype, são lucrativas e transformam em celebridades escritores com pouco ou nenhum conhecimento de temáticas relevantes.
No papel de Monk, Jeffrey Wright adota um tom melancólico. O personagem não é um golpista ou um malandro que descobre onde o tesouro está enterrado. Ele não se regozija em enganar as editoras. Pelo contrário, Monk é um sujeito com poucas esperanças. Seus problemas são objetivos: cuidar da mãe, pagar as contas, lidar com o irmão dependente químico e conviver bem com a namorada.
Sou fã de Jeffrey Wright há algum tempo. Um dos seus principais trabalhos é a série da HBO Westworld. A obra tem um dos melhores textos de televisão que eu já vi. Wright já tinha ali um perfil que ia entre a tristeza, a desperança e a necessidade de se ajustar à vida.
Ficção Americana não é um filme que vai agradar a todos. Acredito, inclusive, que muita gente que se apropria das temáticas sociais apenas com interesse financeiro vai se reconhecer. O que a obra mostra, entretanto, não ocorre apenas no mercado literário ou no cinema. Mesmo na academia, espaço nobre de discussão, há um distanciamento entre o intelectual e as pessoas sobre quem ele fala. E aqui eu não me refiro à distância entre o observador e o objeto científico, mas uma falta de compreensão sobre a vida real e aquilo que é escrito diariamente em artigos científicos. Trocando em miúdos, é muito debate, muita reflexão e pouco envolvimento em causas reais.
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Onde assistir Ficção Americana?
Ficção Americana está disponível no Prime Vídeo da Amazon.
Avaliação de Ficção Americana
Ficção Americana tem nota 7,6 de 10 no IMDB. No Metacritic, o filme recebeu 81 de 100. O jornal Boston Globe afirmou que a obra poderia ter sido mais brutal. O The Observer apontou que a história funciona em dois níveis. Primeiro é a pressão que os artistas negros sofrem para criar um determinado tipo de conteúdo e a outra é a representação da família do protagonista. Na minha opinião, Ficção Americana merece nota 5 de 5. O filme é inteligente ao debater como os estereótipos se disfarçam de expressões como “precisamos falar sobre isso”, um debate que não está restrito ao movimento negro.
Elenco
Jeffrey Wright – Thelonious “Monk” Ellison.
Tracee Ellis Ross – Lisa Ellison.
Issa Rae – Sintara Golden.
Sterling K. Brown – Clifford “Cliff” Ellison.
John Ortiz – Arthur.
Erika Alexander – Coraline.
Leslie Uggams – Agnes Ellison.
Adam Brody – Wiley.
Indicação ao Oscar
Ficção Americana é dirigido por Cord Jefferson. Este é o primeiro longa-metragem dele. Já na estreia, ele teve cinco indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora Original.
O filme é uma adaptação do livro Erasure, de Percival Everett, que não tem tradução em português.