A Metamorfose, de Franz Kafka [resenha]

A Metamorfose, do autor Franz Kafka, conta a história de Gregor Samsa, um jovem comerciante de tecidos que em uma manhã acorda e percebe que se transformou em uma espécie de monstro. Seus braços, pernas, tronco, tudo parece igual ao corpo de um inseto.

Logo após perceber sua situação Gregor Samsa se assusta e mal consegue se mover dentro do quarto. Ele se recusa a sair do pequeno local. A família fica preocupada com o estado de saúde do jovem. Como nunca havia faltado ao trabalho até mesmo o patrão aparece na casa dele em busca de informações.

Gregor Samsa tem uma importância fundamental na família, já que ele é o principal provedor do lar. Esse inclusive é um dos “ganchos” do autor na discussão da obra. A transformação de Samsa em um inseto serve para refletir sobre as formas de parasitismo que família, mercado e Estado impõem sobre o indivíduo. Pouco importa a condição social, física ou financeira do sujeito desde que ele seja capaz de emprestar a sua força para o capital produtivo e a satisfação de alguém.

Na história de Kafka, a família leva um grande susto ao se deparar com Gregor Samsa daquela forma. Sem ter como sair de casa, ele passa a viver unicamente em seu quarto. A família chega a alugar um cômodo da casa para outros moradores, mas eles fogem ao se deparar com o homem-inseto.

A Metamorfose pode ser classificado como um livro surrealista. Não importa ao autor os antecedentes que fizeram Samsa tornar-se um inseto e nem mesmo justificar as razões que o mantém nessa condição. Ele usa essa estratégia para abordar temas como a relação familiar, a burocracia, solidão e liberdade.

A transformação pode ser encarada como efeito de aspectos simbólicos em vez de científicos. Samsa sente-se infeliz no emprego. A família parece não reconhecer o seu esforço diário. Os amigos são poucos e a vida é pouco atrativa. Os dias se passam, até então, em uma rotina de esforço, trabalho e infelicidade.

A influência de A Metamorfose

A Metamorfose é um dos livros mais influentes da literatura do século XX. Gregor Samsa expressa diversos dos sentimentos que emergem na modernidade e na pós-modernidade como a solidão. Ele pode ser interpretado como um símbolo da alienação e da opressão ao qual o indivíduo, que se vê como alguém voltado à vida produtiva, é vítima.

Uma das obras que têm influência de A Metamorfose está O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil. No livro, Musil apresenta a história de um matemático que busca um propósito para a sua existência, mas diante de uma série de fracassos pessoais decide se autoimpor um período de férias morais. Uma relação próxima com a obra de Kafka está a discussão de como as transformações do mundo e suas novas exigências provocam uma transformação no indivíduo.

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Notas pessoais sobre A Metamorfose

O texto de A Metamorfose não é extenso. São 77 páginas na versão da editora Pé da Letra. Fiz a leitura em um final de semana.

O que me chamou atenção foi o tom triste e melancólico da obra. É um livro para reflexão sobre os temas levantados pelo autor. Não é, definitivamente, uma obra de autoajuda nem repleta de frases de efeito para impressionar o leitor.

No início, imaginei que, diante do caso vivido pelo personagem, o livro seria uma ode à família. Pensei que o pai iria acolhê-lo. Mas o que ocorre é o inverso. A vida de Samsa é uma carta àqueles que não conseguem se encaixar nos padrões da vida em sociedade e o isolamento vira uma alternativa de sobrevivência.

Sobre o autor: Franz Kafka

Kafka é conhecido inclusive pela expressão processo kafkaniano, uma frase que surge a partir de outro de seus livros, O Processo.

Franz Kafka nasceu em Praga, na República Tcheca, em 1883. Sua família era de judeus com forte influência da cultura alemã. Advogado de formação, Kafka preocupava-se sobre os efeitos da burocracia na vida do cidadão comum que não tinha poder político, influência e nem estudo para compreender os seus próprios direitos.

A Metamorfose foi publicada originalmente em 1915 em alemão, no formato de conto. A obra pode ser considerada como uma das precursoras do surrealismo na literatura.

Sobre a sua visão política, Kafka conheceu a literatura marxista no final do século XIX. Ela moldou sua percepção ideológica ao longo dos anos seguintes. Ele passou a se reconhecer como comunista e defensor dos direitos da classe operária.

Kafka morreu em 1924 em decorrência de um quadro de tuberculose. Seu reconhecimento como escritor veio inclusive depois do seu falecimento. Até então, pouco do que havia produzido tinha chamado a atenção do público. O responsável pela publicação pós-morte de Kafka foi o seu herdeiro legal, Max Brod, um antigo amigo que era também escritor e jornalista.

Conheça o Museu Kafka em Praga

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