Império da dor e o vício em opióides que destruiu milhares de vidas

Série da Netflix - Império da dor

A série da Netflix Império da dor (Painkiller) coloca o dedo em uma das feridas mais dolorosas da indústria farmacêutica dos Estados Unidos. Durante seis episódios, os espectadores conhecem como a Purdue Pharma, uma importante fábrica de medicamentos produziu uma droga, que mesmo aprovada pelo FDA, causava dependência e levou à morte milhares de pessoas.

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O remédio da Purdue era chamado oxycontin. Ele começou a ser fabricado em 1995. Seu princípio ativo é a oxicodona, um opioide sintético de alta potência utilizado no tratamento de dores moderadas a graves. O marketing da empresa dizia que sua fórmula de liberação prolongada reduziria o risco de abuso. No entanto, o oxyContin se tornou o epicentro de uma crise de dependência de opioides, com relatos de altas taxas de overdose relacionadas a seu uso.

Na série, vemos que Purdue abusava do marketing e da forma de abordagem aos médicos. A farmacêutica incentivava a prescrição de altas doses premiando com presentes e brindes os profissionais de saúde com os maiores índices de receitas emitidas.

Império da dor faz um breve relato do surgimento da empresa até a sua derrocada no ano de 2020, quando abriu falência depois de numerosos processos judiciais. A série tem como um dos seus protagonistas o ator Mathew Broderick (Curtindo a Vida Adoidado), que interpreta o CEO da empresa Richard Sackler. Ele é médico por formação, orgulha-se de ser um vendedor, mas nos bastidores age com poucos escrúpulos e não demonstra apreço a não ser pelo balanço financeiro mensal.

Cada episódio da série começa com depoimentos reais de pessoas que perderam filhos na crise de dependência do oxycontin nos anos 1990 e 2000. Eles leem um texto padrão para contar que a história é baseada em um caso real e que algumas cenas, personagens e locais foram dramatizados. Em seguida, lembram que, por outro lado, a tragédia que passaram não foi ficção.

Na série Império da dor, a atriz Uzo Ubada (Orange is the news black), interpreta a promotora Edie Flowers. É ela quem narra a história e a dificuldade em processar a Purdue. Para se ter uma ideia, entre os advogados de defesa da empresa estava o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. Na trama apresentada pela Netflix, a acusada conseguiu celebrar um acordo com a Procuradoria americana graças a uma interferência política de Giuliani que teria procurado diretamente a Casa Branca. Com isso, o oxycontin ainda ficou vários anos no mercado e teve apenas que fazer uma alteração na bula.

Apesar de uma história com apelo social e boas atuações, Império da dor segue um formato simplório na forma de narrar. Edie Flowers conta tudo sobre o caso diante de um banca de advogados. Não se sabe muito bem o papel deles ao ouvir aquele relato.

O efeito do oxycontin na vida das vítimas é relatado a partir do mecânico Glen Kryger, papel do ator Taylor Kitsch. Depois de sofrer um acidente no local de trabalho, o médico receita a droga a ele. Aos poucos, torna-se dependente e sofre com crises de abstinência. À medida que acompanhamos seu dilema, a Purdue celebra seu sucesso em festas de gala. A vendedora Shanon Schaeffer, vivida por West Duchovny, representa o apogeu do oxycontin. Ela abandona a faculdade, torna-se promotora do medicamento e, mesmo com algum conflito de consciência, faz dinheiro com a dependência dos pacientes.

Já que a justiça não foi feita, a cena final imagina um ato de violência contra Richard Sackler. Depois de seis episódios mostrando os abusos cometidos pela empresa e os depoimentos dos familiares das vítimas, a agressão contra o CEO funciona pelo menos como um acerto de contas fictício.

 O que aconteceu com a Richard Sackler e a Purdue?

A Purdue Pharma declarou falência em setembro de 2019 em meio a uma avalanche de processos judiciais. A falência foi parte de um acordo proposto pela empresa para resolver milhares de processos legais movidos por governos estaduais e municipais que alegaram que a Purdue desempenhou um papel significativo na promoção excessiva e inadequada de seus produtos a base de oxycodona, contribuindo assim para a epidemia de dependência de opioides no país.

Nos créditos finais, a série informa que a família Sackler tem um patrimônio estimado em 11 bilhões de dólares. Uma reportagem publicada, no ano de 2019, no Washington Post mostra que os donos da Purdue irião obter 60 milhões de dólares pela venda de estações de esqui nos Estados Unidos em uma região marcada por casos de overdose de opióides. Na mesma matéria, o jornal aponta que a família ainda tem investimentos em construção, fundos privados e poços de petróleo no Texas.

De acordo o autor do texto, o jornalista Cristopher Rawland, “os Sackler tornaram-se a face pública da epidemia de dependência, com procuradores-gerais e investigadores a considerarem a Purdue Pharma como um impulsionador do abuso de opiáceos, especialmente no final da década de 1990 e início da década de 2000. Mas a família diz que os medicamentos produzidos pela Purdue Pharma representavam apenas uma pequena fração dos consumidos à medida que a crise do vício tomava conta dos americanos”.

Império da dor: avaliação no IMDB

Império da dor tem o nome em inglês de Painkiller. A série estreou em 10 de agosto de 2023. No IMDB, ela tem nota 7,5 de 10. No Metascore, a avaliação é 56 de 100. Foram oito críticas positivas, 16 medianas e quatro negativas. A Rolling Stone apontou que a série é “o mais recente uivo de raiva dirigido ao império Sackler, cuja corporação Purdue Pharma promoveu agressivamente um opioide altamente viciante ao público”.

Elenco de Império da dor

Uzo Aduba – Edie Flowers

Matthew Broderick – Richard Sackler

Taylor Kitsch – Glen Kryger

Dina Shihabi – Britt Hufford

West Duchovny – Shannon Schaeffer

John Rothman – Mortimer Sackler


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