Pobres criaturas: as contradições de Bella Baxter [crítica/resenha]

Pobres Criaturas - resenha, avaliação, onde assistir

O filme Pobres Criaturas (Poor Things, 2023) deu a Emma Stone o Oscar de melhor atriz deste ano. Ela interpreta a jovem Bella Baxter, uma garota que volta à vida pelas mãos do médico Godwin Baxter (William Defoe). Durante algum tempo, Bella vive isolada na casa de Godwin, que passa a ser uma espécie de figura paterna. Mas o desejo de conhecer o mundo faz com que ela fuja com um advogado para viver livre das paredes da residência de Godwin e supostamente das amarras e preconceitos de sua época.

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Essa sinopse define de modo breve o que é o filme. No entanto, Bella é mais complexa do que isso. Godwin resgata Bella depois dela tentar se matar ao pular de uma ponte. Como estava grávida, ele decide retirar o bebê e implantar o cérebro da criança no lugar da mulher adulta. Godwin é como Victor Frankenstein, de Mary Shelley, um grande cientista cuja geneliadade derruba os limites da moral. Assim como o personagem da literatura, ele se dedica a estudar anatomia e os processos químicos e biológicos que regem a vida.

A mansão de Godwin é repleta de criaturas estranhas que são resultados de suas experiências, como uma galinha com cabeça de porco e um pato com corpo de cabra. Mas Bella, por sua condição humana, transcende a barreira do tolerável. Da mesma forma que Mary Shelley concebeu em Frankenstein, a ciência tem seus muros morais. Por isso, a decisão de Godwin de afastar Bella do restante das pessoas.

Nos primeiros momentos da nova vida, Bella era como uma criança. Ela sofria quedas, articulava poucas palavras e foi se aprimorando. Todas as tarefas diárias eram uma descoberta. Em muitos comentários sobre o filme, há menções de que a obra é divertida e espirituosa. Concordo parcialmente com essa afirmação, porque a graça está nas situações ridículas de ver uma mulher adulta que se comporta de modo infantil.

Para acompanhar o progresso de Bella, Godwin contrata Max Candles, um dos seus estudantes de medicina da universidade. Candles, logo se apaixona por Bella e mesmo diante da descoberta dos segredos de Godwin, mantém um interesse genuíno pela garota. Eles decidem se casar. Ao mesmo tempo em que esses fatos se desenrolam, Bella começa, assim como todas as pessoas, a descobrir o próprio corpo e como se estimular para ter prazer.

Godwin contrata um advogado para escrever um acordo pré-nupcial. O personagem é vivido pelo ator Mark Ruffalo. Ele tem um nome bastante pomposo no filme, Duncan Weddenburn. Ao ver Bella, ele fica interessado pela garota, se aproxima e fazem sexo. Esse despertar da sexualidade aumenta a vontade da jovem em sair da mansão, conhecer outros lugares e viver novas experiências.

No segundo ato, a vida sexual de Bella passa a nortear a história. Para muita gente que tem visto o filme, isso representa uma maneira de estar livre e de superar os preconceitos da sociedade em torno do sexo. Mas vale lembrar que Bella tem o cérebro e a mente de uma criança. A sua condição de mulher adulta é apenas no corpo. A falta de limites no comportamento é porque ela não dispõe de uma estrutura cognitiva pronta.

Acredito que o filme tem muitos méritos. Emma Stone mereceu o Oscar até mais do que na época de La Land. A direção de câmera tem enquadramentos pouco usuais. Há muitas sacadas inteligentes na história como o nome dos personagens. Bella chama o seu pai de God. Uma abreviação de Godwin e também Deus em inglês, bem adequado a quem tem o poder de trazer alguém de volta à vida. A direção de Yorgos Lanthimos articula com maestria os elementos da linguagem cinematográfica. Mas as questões morais não podem ser esquecidas. O que temos na tela é uma personagem que tem o cérebro de uma criança e é hipersseuxualizada. Isso não é liberdade, é abuso. Não tem a ver com superar preconceitos, mas ser objetificada pelas pessoas a sua volta.

Avaliação de Pobres Criaturas

Pobres Criaturas tem nota 8 de 10 no IMDB. No Metacritic, o filme ficou com a média de avaliação de 88 de 100. No Rotten Tomattoes, a obra de Lanthimos alcançou 92%. No site da Rolling Stone, a crítica afirma que o filme faz um ataque rápido “aos costumes antigos em relação ao sexo que ainda não parecem passados ​​​​o suficiente”. O San Francisc Chronicle foi duro: “é um erro de 141 minutos”.

Do ponto de vista técnico, Pobres Criaturas está no nível das grandes obras dos últimos tempos como Oppenheimer, Anatomia de uma queda, Duna e outros. Entretanto, no que se refere a princípios humanos, não passa de uma história de mau gosto.

Onde assistir a Pobres Criaturas?

Pobres Criaturas está disponível no streaming pelo StarPlus.

Elenco de Pobres Criaturas

Emma Stone – Bella Baxter
Willem Dafoe – Godwin Baxter
Vicki Pepperdine – Mrs. Prim
Ramy Youssef – Max McCandles
Jack Barton
Charlie Hiscock – Fop 1
Attila Dobai – Hapless Student
Emma Hindle – Woman With Kid In London Street
Anders Olof Grundberg – Kid In London Street
Attila Kecskeméthy – Burly Guy
Mark Ruffalo – Duncan Wedderburn
Jucimar Barbosa – Lisbon Doorman