Zona de Interesse: o horror da guerra não é visto por todos [crítica]


Entre flores e um belo jardim, um menino brinca próximo à mãe. Do outro lado do muro, ouvem-se barulhos de pancadas, gritos e choros. Para a família que está em casa, tudo parece normal, e eles não se importam com o que acontece fora de seu universo.

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Essa é uma das cenas do filme Zona de Interesse, dirigido por Jonathan Glazer. A obra narra a história de Rudolf Höss e sua família. Ele é o comandante do campo de concentração de Auschwitz. Viciado em trabalho, Höss faz de tudo para ser notado por seus superiores, o que implica ser o mais violento e desumano possível com as pessoas sob sua guarda. No entanto, quando está com a família, demonstra ser um bom marido e um pai preocupado com o crescimento de seus filhos.

Zona de Interesse é um exemplo da “banalização da maldade”. A família Höss vive as preocupações de qualquer pessoa comum. Hedwig Höss, esposa de Rudolf e mãe das crianças, acredita que foram abençoados por viverem em uma casa tão boa e conquistarem tudo aquilo. Não há culpa, remorso ou preocupação com os horrores enfrentados pelos prisioneiros do campo de concentração, mesmo sendo vizinhos de Auschwitz.

O filme me fez lembrar dos estudos do psicólogo Stanley Milgram, que desenvolveu uma série de pesquisas sobre obediência e agressividade. Milgram buscava compreender como oficiais nazistas, mesmo sendo pessoas altamente instruídas academicamente, entregaram seus talentos e habilidades para atos de desumanidade. Resumidamente, o que Milgram discute é que existe dentro de cada pessoa uma porção de agressividade, algo inato a todos. Cada pessoa busca uma maneira de expressar esses sentimentos. Em um regime totalitário, os lugares e momentos para perpetrar dor ao outro são naturalizados. Por isso, a família Höss não vê Auschwitz como um problema.

Zona de Interesse mostra como os atos de violência e desumanidade podem ser normalizados, mesmo que a poucos metros de distância, do outro lado de um muro, um genocídio esteja ocorrendo. O roteirista Jonathan Glazer não leva a história para dentro do campo de concentração. São poucos e raros os momentos com cenas fora da casa dos Höss. A aparente normalidade em contraste com o horror da guerra cria uma sensação de repulsa naqueles que não se importam com a dor do outro.

A direção de fotografia de Lukasz Zal amplifica a diferença entre a vida normal e o extermínio ao mostrar o quintal da família Höss, seus convidados e, ao fundo, a fumaça das câmaras de Auschwitz.

Zona de Interesse é um filme feito para incomodar. Não é algo para se assistir comendo pipoca e depois dizer que foi legal. É para dar um soco no estômago e sair com perguntas, como: “Será que está acontecendo algo ruim no mundo e eu não estou percebendo?”

Avaliação Zona de Interesse

No IMDB, Zona de Interesse tem nota 7,5 de 10. O filme ficou com 92 de 100 no Metacritic. O Consequence afirmou que Zona de Interesse é “experimental, frio em alguns pontos e íntimo em outros. É um dos filmes mais deliberadamente desafiadores do ano, sem medo de explorar um dos momentos mais sombrios da humanidade”.

Zona de Interesse é um filme que transmite uma mensagem, uma visão sobre o holocausto e, mais do que isso, faz a gente experimentar sentimentos como repulsa, raiva e nojo. Por essa capacidade do diretor lidar com o tema dessa maneira, a minha nota é 5 de 5.

 

Elenco Zona de Interesse


Christian Friedel – Rudolf Höss

Sandra Hüller – Hedwig Höss

Johann Karthaus – Claus Höss

Luis Noah Witte – Hans Höss

Nele Ahrensmeier – Inge-Brigitt Höss

Lilli Falk – Heideraud Höss

Anastazja Drobniak – Annagret Höss

Cecylia Pekala – Annagret Höss

Kalman Wilson – Annagret Höss

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